Adotar a demissão humanizada resulta em diversos benefícios, sobretudo para os funcionários sendo desligados. Afinal, “Quando as demissões acontecem de forma humanizada, elas costumam ser menos traumáticas e mais transparentes”.
Quem disse isso foi Paula Esteves, sócia e co-CEO do Grupo Cia de Talentos. Por isso, saber como agir de forma humanizada durante o desligamento é essencial por dois motivos específicos: evitar os impactos negativos e gerar os pontos positivos dessa abordagem.
Isso ganha ainda maior relevância diante de determinados dados, como os do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, destacando os mais de 2 milhões de desligamentos em março de 2024, por exemplo.
Junto a isso, o número de demissões voluntárias tem crescido no Brasil, que, como cita Diogo Forghieri, diretor de Talent Solutions da Randstad, “é reflexo dos movimentos puxados por profissionais mais qualificados que declaram priorizar uma vida mais equilibrada”.
Assim, para abordar as nuances da demissão humanizada, este artigo focará estes tópicos:
- O que é demissão humanizada?
- Quais são os tipos de demissão?
- Por que humanizar o processo de demissão?
- Quais as vantagens de um desligamento humanizado?
- Quais os impactos de um desligamento humanizado?
- Qual o papel do RH na demissão humanizada?
- Como humanizar o processo de desligamento?
Continue acompanhando o conteúdo!
O que é demissão humanizada?
A demissão humanizada refere-se a um tipo de abordagem que as empresas usam para realizar o desligamento de um funcionário. Nesse processo, o vínculo empregatício é desfeito de forma humanizada, ou seja, com respeito, carinho e empatia.
Esse tipo de demissão é feito para amenizar qualquer impacto negativo que possa afetar o funcionário. Isso, aliás, é o oposto do que ocorre na demissão tradicional: abordagem em que a empresa foca apenas nos procedimentos burocráticos do desligamento.
Como surgiu esse conceito?
O conceito de demissão humanizada é relativamente recente, tendo surgido nos anos 1960 nos Estados Unidos. Isso aconteceu em um período histórico marcado por demissões em massa em virtude da revolução tecnológica, que automatizou inúmeros processos.
Nesse cenário, as empresas começaram a realizar o desligamento de seus funcionários, sobretudo aquelas das áreas de ciências e engenharia, ambas diretamente impactadas por tal revolução. Foi quando surgiu o chamado “outplacement”, que quer dizer “realocação”.
Com essa prática, as empresas realizam uma demissão mais humana, auxiliando os seus ex-funcionários a encontrarem uma nova oportunidade de emprego e, assim, realocarem-se no mercado de trabalho. O termo “demissão humanizada” teve seu início a partir disso.
Quais são os tipos de demissão?
Existem vários tipos de demissão, todas com respaldo legal. Em alguns tipos, o desligamento parte da empresa; em outros, do funcionário. Veja as particularidades seguir:
| Tipo de demissão | Características |
| Demissão por justa causa | A empresa demite o funcionário por ele ter cometido falta grave sob a luz da CLT, como embriaguez e ato de indisciplina ou de insubordinação. |
| Demissão sem justa causa | A empresa demite o funcionário, mas sem que ele tenha cometido falta grave sob a luz da CLT. Isso a obriga a pagar indenizações, honorários e penalidades. |
| Rescisão indireta | O funcionário solicita demissão devido à falta grave da empresa, inviabilizando-o de continuar trabalhando. Nesse caso, ele recebe todos os seus direitos trabalhistas. |
| Pedido de demissão | O funcionário solicita demissão, mas por motivos pessoais, como ter achado outra oportunidade de emprego. Ele recebe só alguns direitos, como saldo de salário e férias proporcionais e vencidas. |
Por que humanizar o processo de demissão?
É importante que a empresa adote um processo de demissão humanizada por vários motivos, sendo a preservação da sua imagem um deles.
Essa construção de imagem corporativa positiva não visa atingir só o funcionário sendo desligado. Afinal, tanto os profissionais que permanecem empregados quanto aqueles que pretendem fazer parte do quadro de pessoal da empresa ficarão a par em caso de demissão desrespeitosa.
Outros porquês para fazer um desligamento mais humano são:
- Diminuir os impactos na vida do colaborador, evitando que ele se sinta desvalorizado. Isso também evita que ele vire um detrator: por conta da má experiência que teve, ele acaba difundindo opiniões negativas sobre a empresa;
- Fortalecer a cultura organizacional, já que demitir de forma respeitosa e empática é um meio de a empresa demonstrar que se preocupa com o bem-estar daqueles profissionais que fizeram parte do seu quadro de funcionários.
Quais as vantagens de um desligamento humanizado?
Quando uma empresa, seja de pequeno, médio ou grande porte, usa a abordagem de demissão humanizada, beneficia-se com alguns pontos positivos dessa decisão. O mesmo vale para os funcionários. Entenda.
Benefícios para as empresas
Além de favorecer sua reputação no mercado, evitando que funcionários virem detratores, a empresa também se beneficia com a possibilidade de recontratação ao adotar a demissão humanizada.
É o que pode acontecer em caso de demissão sem justa causa. Por exemplo, por motivos pessoais, o funcionário solicita o desligamento e, ao longo de todo o processo, sente-se valorizado, respeitado e cuidado.
Em momento algum, ele teve o sentimento de estar unicamente seguindo etapas burocráticas, como se fosse substituível facilmente. Pelo contrário: o que ele experimentou foi o sentimento de que a empresa o compreendeu, o que aumentou as suas chances de retornar para ela em algum momento.
Além disso, a empresa também se beneficia com a menor chance de lidar com processos trabalhistas. Isso porque, ao fazer todo o processo de desligamento de forma humanizada, comunicando a demissão com clareza, empatia e, sobretudo, como manda a lei, o funcionário compreende a situação, eliminando dele qualquer sentimento de injustiça.
Benefícios para os colaboradores
Enquanto isso, os colaboradores também são favorecidos com a demissão humanizada. A primeira vantagem envolve o lado emocional. Embora esteja sendo desligado, ao se sentir valorizado, o funcionário tem mais força para se adaptar a uma nova fase profissional.
Nesse sentido, o desligamento humanizado também se apresenta por meio de conselhos e orientações por parte da empresa. Como também destacou a já citada Paula Esteves: “Dessa maneira, as pessoas percebem que a empresa se preocupa com elas durante toda a sua jornada, desde o processo de contratação até o desligamento”.
Assim, esse apoio auxilia o profissional a encontrar uma nova oportunidade de emprego, desenvolvendo nele um sentimento de gratidão pela empresa, ainda que ele já não tenha qualquer vínculo empregatício com ela.
Quais os impactos de um desligamento humanizado?
O desligamento humanizado traz impactos para a empresa e o funcionário demitido, todos eles sendo positivos. Por isso, quando implementado corretamente, preserva a relação, mantendo-a respeitosa e evitando quaisquer ressentimentos. Nesse sentido, os principais impactos desse desligamento mais humano são:
- Melhora a reputação da empresa;
- Reduz processos trabalhistas;
- Fortalece a cultura organizacional;
- Diminui impactos emocionais no funcionário;
- Auxilia o colaborador a encontrar outro emprego;
- Aumenta a chance de recontratação.
Qual o papel do RH na demissão humanizada?
O time de recursos humanos é quem auxilia a empresa no cumprimento das melhores práticas de demissão humanizada. Ou seja, é quem garante que os colaboradores demitidos sairão da organização sem qualquer percepção negativa a respeito dela.
Nesse sentido, uma das responsabilidades do RH para um desligamento humanizado engloba a criação de políticas internas que definem os procedimentos e as boas práticas desse procedimento. Além disso, o RH também deve dar suporte ao colaborador no desligamento, tirando suas dúvidas acerca dos direitos trabalhistas, por exemplo.
Como humanizar o processo de desligamento?
Para adotar a demissão humanizada, a empresa precisa implementar algumas medidas. Entenda quais são elas a seguir.
Treine a liderança
A depender do tipo de demissão, são os gestores que, inicialmente, conduzem o processo de comunicação do desligamento. Por isso, treinar estes líderes para que eles saibam como se expressar de forma mais empática e assertiva é importante, especialmente porque se trata de uma situação delicada, na qual o colaborador pode reagir de diversas formas.
Defina critérios de comunicação
A empresa também deve definir alguns aspectos envolvendo a comunicação para a demissão humanizada ser feita com assertividade. Na prática, deve-se planejar o momento certo em que isso será feito, bem como o local, que, preferencialmente, deve ser privado. O mesmo vale para o caso de o desligamento ser feito remotamente.
Escute ativamente o colaborador
A escuta ativa é outra importante prática que deve ser implementada no processo de demissão humanizada. Afinal, ouvir as opiniões e os sentimentos do funcionário nesse momento tão delicado é uma maneira de demonstrar empatia e respeito.
Portanto, deve-se evitar ficar interrompendo o funcionário: deixe-o falar abertamente sobre o que está sentindo, seja isso positivo ou não. Sem julgamentos. Fazer isso até auxilia a empresa a entender falhas internas nos casos em que o colaborador pediu demissão.
Nesse sentido, Lara Avelino, analista de RH, psicóloga organizacional e recrutadora, recomenda:
“Então, seja através da entrevista de desligamento ou de uma conversa direta com o colaborador, é fundamental entender e ouvir o posicionamento dele. É importante compreender quais foram os motivos do desligamento e como nós, profissionais de RH, podemos melhorar e agir de forma mais assertiva com base nas informações que ele nos fornece.”
Ofereça assistência e acolhimento, se possível
Se a empresa tiver um programa de assistência psicológica, é importante que ela o ofereça ao funcionário.
Ela também pode fazer uma carta de recomendação, que, embora não seja obrigatório por lei nem exigida em processos de seleção, é um jeito de demonstrar cuidado pelo trabalhador. Afinal, a carta serve de “atestado” para as qualidades e habilidades dele.
Conclusão
A demissão humanizada, ainda que implementada há poucos anos no mercado de trabalho, tem um papel indispensável. Isso se dá tanto pelas vantagens que traz para a empresa, como evitar que o funcionário vire seu detrator, quanto pelos pontos positivos gerados para os funcionários, como o sentimento de valorização profissional e cuidado.
Portanto, deve-se entender todos os tipos de demissão, pois em alguns deles esse processo de humanização é estratégico. Também é importante que a empresa fique a par das ações que deve tomar para fazer o desligamento de forma empática, como prezar pelo treinamento de líderes para que eles saibam como falar e ouvir o funcionário.
Gostou deste conteúdo? Confira mais textos interessantes sobre assuntos similares a este no blog Pontotel.
