A inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho ainda enfrenta muitos obstáculos. Um dos motivos para isso é o preconceito resultante da estigmatização e da falta de conhecimento sobre o conceito, as características e o potencial de profissionais neurodiversos.
Os neurodivergentes são pessoas com habilidades cognitivas e funcionamento mental diferentes em relação à maioria da população.
Nesse grupo, estão incluídos os portadores de Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia, síndrome de Tourette, entre outras condições.
Embora os neurodivergentes tenham necessidades específicas, a forma como enxergam a realidade permite que eles se destaquem no ambiente de trabalho. Eles podem ser mais criativos, detalhistas, críticos, analistas, entre outras habilidades essenciais para o sucesso das empresas.
Ou seja, a inclusão dos neurodivergentes no mundo corporativo é fundamental para auxiliar a empresa a se tornar mais inovadora, eficiente e criativa.
Porém, para aproveitar esses e outros benefícios, as organizações precisam entender quais barreiras impedem a inclusão dos neurodiversos e como o setor de Recursos Humanos (RH) pode contribuir para eliminar esses obstáculos.
Para explicar tudo isso, neste artigo, serão abordados os seguintes tópicos:
- Neurodivergentes no mercado de trabalho: realidade no Brasil
- Benefícios da inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho
- Quais as principais barreiras da neurodiversidade no trabalho?
- Qual é o papel do RH para facilitar a inserção de neurodivergentes nas empresas?
Boa leitura!
Neurodivergentes no mercado de trabalho: realidade no Brasil
Embora o debate sobre diversidade e inclusão de neurodivergentes tenha ganhado espaço na sociedade nos últimos anos, a inserção de profissionais com algum tipo de neurodivergência no mercado de trabalho avança lentamente. Para comprovar isso, basta conferir os números.
Atualmente, os autistas representam boa parte dos neurodivergentes no Brasil e no mundo. A estimativa é que existam cerca de 2 milhões de autistas no país.
Segundo um levantamento do Center for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, esse número pode ser ainda maior.
Estima-se que 1 a cada 44 pessoas podem ser diagnosticadas com algum grau de autismo. Contudo, elas se tornam invisíveis para os dados oficiais por não serem avaliadas corretamente.
Apesar desse número alto, dados do IBGE apontam que quase 85% das pessoas autistas estavam desempregadas em 2019.
Esses números podem ter mudado um pouco nos últimos anos em função das transformações resultantes da pandemia de COVID-19.
Mesmo assim, ainda é necessário desestigmatizar o debate sobre saúde mental e transtornos de neurodesenvolvimento. Ao mesmo tempo, as empresas precisam se adaptar para contratar e manter profissionais neurodivergentes em seu quadro de funcionários.
Vale lembrar que existem leis que estimulam a integração de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho. Uma delas é a Lei n.º 12.764/ 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.
Também existe a Lei 12.764 de 2012, que estimula a inserção de pessoas com TEA no mercado de trabalho, acesso à educação, incentivo à capacitação profissional, criação de políticas públicas e acesso a tratamento e medicamentos, garantindo direitos fundamentais para a inclusão e bem-estar dessas pessoas.
Assim, para fins legais, os autistas são considerados pessoas com deficiência. Por isso, sua contratação também é respaldada pela Lei 8.213/1991, que determina a reserva de 2 a 5% dos postos de trabalho para pessoas com deficiência.
Benefícios da inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho
A inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho é mais do que uma questão legal. Além de permitir que a empresa cumpra as determinações da Lei 8.213/1991, essa inclusão também beneficia a organização de outras formas.
Confira a seguir quais as vantagens de ter neurodivergentes no quadro de funcionários.
Diversidade de perspectivas
Pessoas neurodivergentes geralmente têm habilidades específicas que podem contribuir significativamente para os resultados da empresa.
Além de habilidades cognitivas avançadas, os neurodivergentes tendem a apresentar perspectivas únicas. Isso porque eles têm uma forma diferenciada de pensar e solucionar problemas.
Esse modo de pensar estimula sua criatividade e pensamento crítico, permitindo que eles compartilhem soluções inovadoras.
Vale lembrar que a neurodivergência não está ligada a competência profissional. Essa visão errônea prejudica a evolução do colaborador e também afeta a empresa, por dificultar a contratação de profissionais talentosos.
Por isso, a inclusão de pessoas neurodiversas também contribui para a retenção de talentos e para o sucesso do negócio.
Redução de estereótipos e preconceitos
A convivência e a interação com profissionais neurodivergentes ajuda a reduzir os estereótipos e preconceitos associados à neurodiversidade.
Isso porque os funcionários têm a oportunidade de conhecer, conviver e interagir com esses profissionais. Assim, eles começam a entender e respeitar as diferenças individuais, reduzindo o estigma associado a essas condições.
Melhoria do ambiente de trabalho
A inclusão de neurodivergentes ajuda a construir um ambiente de trabalho mais inclusivo, tolerante e respeitoso para todos.
Afinal, a empresa precisa se esforçar para acomodar as necessidades de funcionários neurodivergentes. Dessa forma, ela demonstra que se preocupa e deseja criar um ambiente em que todos se sintam valorizados e respeitados.
Como resultado, é possível melhorar o clima organizacional, aumentar a satisfação dos funcionários e até fortalecer a cultura empresarial.
Reforço da imagem da empresa
Empresas que promovem a inclusão de neurodivergentes nas suas equipes demonstram compromisso com a diversidade e a igualdade.
Afinal, elas praticam o que acreditam, e isso melhora sua reputação perante clientes, investidores, parceiros comerciais e a comunidade em geral.
Por isso, a inclusão de neurodivergentes também é considerada um diferencial competitivo para a organização.
Quais as principais barreiras da neurodiversidade no trabalho?
Apesar dos benefícios que os neurodivergentes podem proporcionar às empresas, esses profissionais ainda enfrentam várias barreiras para se inserir no mercado de trabalho.
Confira abaixo algumas delas:
Estigmatização e falta de conscientização
Uma das principais barreiras da neurodiversidade no trabalho é a discriminação, provocada principalmente pela estigmatização e pelo desconhecimento sobre as condições neurodiversas.
A falta de conscientização impede que as demais pessoas entendam as necessidades e os desafios desses indivíduos. Como resultado, surge o preconceito, que estimula a exclusão de profissionais neurodivergentes do ambiente de trabalho.
Processos de recrutamento inadequados
Outro problema que impede a contratação de neurodivergentes está na forma como processos de recrutamento e seleção são conduzidos. Em geral, os processos seletivos não são adaptados para identificar ou acomodar candidatos neurodivergentes.
Por conta de suas características associadas as condições neurodiversas, eles podem ser reprovados em etapas de seleção que dependem muito das habilidades sociais e da comunicação verbal, como dinâmicas em grupo e entrevistas.
Ambientes de trabalho não inclusivos
Os ambientes de trabalho também podem ser considerados obstáculos para a inclusão de neurodivergentes na empresa. Isso porque esse profissionais podem ter dificuldade para se comunicar, interpretar sinais sociais e interagir com outras pessoas.
Se a empresa não adotar uma cultura que considere suas limitações, essas dificuldades podem levar a mal-entendidos e conflitos no local de trabalho.
Além dessa questão relacional, os neurodivergentes também podem ter dificuldade de utilizar os ambientes físicos das empresas.
A depender do tipo e do grau de neurodivergência, o profissional pode ser mais sensível a ruídos, iluminação, organização do espaço físico, entre outros detalhes. A falta de planejamento de demandas e clareza de processos também são questões que podem atrapalhar o trabalho de neurodiversos.
Por isso, empresas que desejam contratar profissionais neurodivergentes precisam adaptar sua política, seus processos e seu espaço para atender as necessidades dessas pessoas e criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e diverso.
Vale lembrar que, geralmente, as adaptações necessárias para a inclusão de neurodivergentes são manejáveis, sendo que o investimento realizado nessas mudanças pode apresentar ótimos retornos.
Falta de políticas de inclusão
A falta de políticas de inclusão específicas para pessoas neurodivergentes também dificulta o acesso desses profissionais ao mercado de trabalho.
Isso porque essas políticas são fundamentais para orientar procedimentos de seleção, inclusão e adaptação desses profissionais na organização.
Portanto, sem a construção de uma política clara nesse sentido, dificilmente as empresas conseguirão criar um ambiente em que os funcionários se sintam aceitos e seguros para trabalhar e mostrar o seu potencial.
Qual é o papel do RH para facilitar a inserção de neurodivergentes nas empresas?
O setor RH é fundamental para promover a inclusão e a diversidade na empresa. Afinal, os profissionais do setor são responsáveis por conduzir desde os processos de recrutamento até o treinamento e a avaliação dos funcionários.
Portanto, o RH pode adotar medidas que facilitem a inserção dos neurodivergentes nas empresas. Por exemplo, o setor pode revisar e adaptar os processos de recrutamento, evitando avaliações tradicionais que podem ser desafiadoras para candidatos neurodivergentes.
Ele também deve desenvolver políticas de diversidade e inclusão, detalhando o que a empresa deve fazer para atender as necessidades específicas dos funcionários neurodivergentes.
Uma dessas ações pode ser oferecer treinamento sobre o tema, incluindo informações sobre diferentes condições neurodivergentes e estratégias para apoiar e interagir com eficácia com esses profissionais.
Ao adotar medidas como essas, o RH ajuda a criar um ambiente de trabalho inclusivo, em que os neurodivergentes podem contribuir plenamente com suas habilidades e perspectivas únicas.
Por meio dessas ações, o RH se torna mais estratégico, contribuindo para a promoção da diversidade no local de trabalho e para a retenção de talentos na organização.
Conclusão
A inclusão de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho promove vários benefícios. Conforme explicado, essa inserção aumenta a diversidade de ideias e perspectivas, contribui para a retenção de talentos, ajuda a empresa a construir um diferencial competitivo, entre outras vantagens.
Para que isso aconteça, a entrada efetiva de pessoas neurodivergentes no mundo corporativo exige que as empresas adotem políticas de inclusão e forneçam treinamento e conscientização.
Além disso, as organizações devem adaptar seus processos de recrutamento e criar ambientes de trabalho mais flexíveis e acessíveis. Para isso, as empresas precisam de um RH mais inclusivo e consciente da importância da neurodiversidade.
Assim, os profissionais do setor podem adotar as estratégias adequadas para acolher esses profissionais no ambiente de trabalho.
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