Mesmo antes da pandemia da COVID-19, a solidão já era um problema na sociedade, sobretudo por conta do uso excessivo de dispositivos eletrônicos e do isolamento digital. Além desses, outra causa da chamada epidemia da solidão é o trabalho remoto.
Em uma pesquisa feita pelo American Psychiatric Association, por exemplo, 48% das pessoas que trabalham em casa responderam que se sentem isoladas ou solitárias às vezes. Enquanto isso, 17% delas dizem que se sentem dessa forma o tempo inteiro.
A solidão, que pode acontecer com as pessoas em diversos contextos, como no trabalho e na família, é resultado de diversos outros sentimentos, como a inadequação e a insegurança acerca de suas habilidades ou valor pessoal e profissional.
Em virtude das várias nuances desse tema, este texto focará abordar os seguintes tópicos:
- O que é epidemia da solidão?
- Como identificar a epidemia da solidão?
- Impactos da solidão no ambiente de trabalho
- Como o RH pode ajudar os colaboradores a evitarem a epidemia da solidão?
Tenha uma ótima leitura!
O que é epidemia da solidão?
A epidemia da solidão refere-se ao fenômeno do crescente sentimento de isolamento social que as pessoas estão tendo em todo o mundo. Uma das definições do Dicionário Michaelis para epidemia é justamente o “agravamento do número de casos que apresentam qualquer anormalidade”, como a sensação de solidão.
Como a própria Organização Mundial da Saúde afirmou acerca dessa problemática, trata-se de uma “ameaça premente para a saúde”. Ou seja, algo que precisa de solução urgente. Não é à toa que ela criou a Comissão Internacional para Conexão Social, com foco em promover soluções para isso ao redor do mundo.
Os sete espectros da solidão
Uma forma de entender melhor a epidemia da solidão é olhar para os 7 espectros desse sentimento. Entenda os detalhes.
Abandono
Esse espectro da solidão refere-se ao sentimento de ser ignorado ou esquecido por entes queridos, amigos ou parceiros. O abandono também surge quando uma pessoa perde alguém importante ou termina um relacionamento amoroso.
Redes sociais
As redes sociais também fazem parte das nuances da solidão. No estudo “Associações entre uso de mídias sociais e solidão em uma população internacional: os motivos para o uso de mídias sociais são importantes?”, por exemplo, constatou-se que os níveis mais altos de solidão estavam associados aos níveis mais altos de mídias sociais.
Isso se dá por vários motivos, como a impressão que uma pessoa, ao olhar redes sociais, cria de que todas as outras têm uma vida mais feliz do que a dela.
Insegurança
Mais um dos espectros da solidão é a insegurança, que, essencialmente, parte do medo de não se sentir suficiente ou digno de algo, como do amor ou da amizade de alguém. O resultado disso é que, ao sentir-se inseguro, a pessoa acaba se afastando do convívio social. Esse afastamento é causado, ainda, devido ao medo do julgamento e da rejeição.
Inadequação
Inadequação diz respeito à sensação de não pertencimento, como quando um funcionário sente que não se encaixa na empresa ou quando uma pessoa sente que não deveria fazer parte de um grupo de amigos.
Ansiedade de performar
Ligada ao sentimento de não corresponder às expectativas de outras pessoas, a ansiedade de performar também é uma das causas da epidemia da solidão. É o que ocorre quando um funcionário, imerso em um ambiente de trabalho, sente-se pressionado para alcançar metas específicas e, para conquistá-las, começar a negligenciar o convívio social pouco a pouco.
Relação com tempo e espaço
Cada pessoa experimenta o tempo e espaço de formas distintas, e isso é um dos pontos que influenciam o sentimento de solidão. Dois cenários que exemplificam isso são:
- Se alguém está fisicamente longe de amigos ou familiares, tem mais chances de se sentir sozinho;
- O mesmo acontece com trabalhadores em regime remoto: em uma sondagem da BBC News Brasil, observou-se que 81% das pessoas que têm menos de 35 anos sentem-se solitárias trabalhando em casa por longos períodos.
Irrelevância
Esse sentimento surge quando a pessoa sente que sua existência ou aquilo que faz não tem impacto ou importância. Quando um funcionário sente que seu esforço não é valorizado, por exemplo, pode ter a sensação de irrelevância. Ao longo do tempo, isso resultará em isolamento progressivo e até em pedido de demissão.
Como identificar a epidemia da solidão?
Sejam sintomas mais sutis ou mais claros, a epidemia da solidão pode ser identificada por meio de sinais. É o caso de um funcionário que sempre foi sociável, mas que depois passa a evitar interações ou ter mais faltas nos últimos meses.
Outros indicadores de que os funcionários talvez estejam se sentindo solitários são a perda de produtividade e a irritabilidade, que aumenta os conflitos na equipe. A observação e a análise de relatórios atrelados a tais aspectos, como o de absenteísmo ou de desempenho, são formas de identificar isso.
Impactos da solidão no ambiente de trabalho
Assim como em outros contextos, a epidemia da solidão traz vários pontos negativos para o local de trabalho. Veja os dois principais a seguir.
Aumento do absenteísmo
Quanto mais solitários os funcionários se sentem, menos produtivos e mais desmotivados eles se tornam. Isso, gradualmente, os fazem faltar mais no trabalho. Esse sentimento também aumenta o absenteísmo ao fazê-los se sentirem desconectados do time, contribuindo até para atrasos mais frequentes.
Clima organizacional ruim
A epidemia da solidão também prejudica o clima organizacional: o trabalho colaborativo diminui, os atrasos em tarefas se tornam mais frequentes por conta dos problemas de interação e até o número de mal-entendidos entre os funcionários pode aumentar em virtude dos espectros da solidão, como os sentimentos de irrelevância e de abandono.
Como o RH pode ajudar os colaboradores a evitarem a epidemia da solidão?
Como o RH pode ajudar os colaboradores a evitarem a epidemia da solidão?
O RH pode auxiliar estrategicamente no combate à epidemia da solidão por meio de certas medidas. Além disso, como cita Bruno Rodrigues, CEO e cofundador da GoGood:
“O RH precisa ser um facilitador da jornada de bem-estar do seu colaborador. Ele precisa estar ali, à disposição, trazendo o melhor e a maior flexibilidade possível para que a transformação no mindset aconteça”.
Assim, o ideal é adotar as melhores práticas para combater tal epidemia, combinando-as sempre que possível. Entenda a seguir.
Abrir espaço para os colaboradores se expressarem
Reuniões regulares para colaboradores compartilharem ideias e preocupações que estejam tendo é uma forma de evitar a epidemia da solidão. Ainda, vale criar canais anônimos, pois alguns funcionários podem querer expressar temas mais pessoais e críticos.
Cristina Pereira, coordenadora de operações na Comunitive, pontua algo interessante sobre isso: “Se o colaborador não tem abertura para pedir um dia extra ou para reclamar de algo que não está funcionando, isso se torna um problema”. Um desses é o sentimento de solidão”.
Incentivar o reconhecimento
Não ser reconhecido no trabalho, como já abordado neste conteúdo, pode fazer o colaborador se isolar. Ele sente que seu esforço pode não ser o suficiente. Duas formas de combater isso são os programas de reconhecimento e a adoção de feedback positivo.
Fornecer momentos de descontração para os colaboradores
Sentir-se mais relaxado junto a outros colegas de trabalho também é uma maneira de combater a epidemia da solidão. Almoços temáticos, happy hours (presencial ou remoto) e eventos sociais são algumas formas de proporcionar essa descontração.
Conclusão
Entre familiares, em grupos de amigos, no local de trabalho: a epidemia da solidão é um problema social que afeta o ser humano em todos os contextos nos quais esteja inserido. Por isso, saber como evitar essa solidão ou, caso ela acabe acontecendo, combatê-la estrategicamente, é essencial para uma vida mais saudável.
Em empresas, desde as grandes até as de pequeno porte, o sentimento de solidão traz sérios perigos — e é por isso que o RH tem um papel indispensável nisso. Afinal, como sabiamente destaca Donna Miller, diretora de RH: “Enfrentar a solidão significa priorizar o bem-estar dos funcionários”.
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