Muitas ferramentas digitais estão ganhando popularidade entre as empresas que buscam alternativas de aumentar a produtividade dos colaboradores. Boa parte dessas opções são softwares de monitoramento do trabalho conhecidos como bossware.
Embora não seja um conceito novo, o bossware está sendo adotado como nunca, devido ao aumento da força de trabalho remoto. Uma pesquisa realizada pela Digital.com revelou que 60% das organizações dos EUA e da Europa com regime de home office já utilizam algum programa que monitora as atividades dos funcionários remotos.
No entanto, apesar da crescente popularidade, o uso indiscriminado do bossware acarreta riscos para as empresas, principalmente quando não são consideradas as barreiras legais e o impacto que essa prática pode ter sobre os colaboradores.
Este artigo explicará todas as questões fundamentais relacionadas à privacidade, à ética e ao impacto psicossocial nos ambientes de trabalho com o bossware. Confira, logo abaixo, um breve resumo dos assuntos que serão explicados mais adiante:
- O que é bossware?
- Como funciona o bossware?
- Quais os impactos do bossware para a empresa?
- Quais os impactos do bossware para o colaborador?
- O que diz a lei sobre a prática de bossware?
- Quais os cuidados que o RH deve tomar com a prática de bossware?
Continue a leitura para descobrir tudo sobre o uso do bossware!
O que é bossware?
O termo bossware é usado para descrever softwares de monitoramento utilizados pelos empregadores para supervisionar a rotina dos funcionários. Essas ferramentas são instaladas nos dispositivos de trabalho e podem rastrear a produtividade e as atividades realizadas pelos colaboradores.
Qual a origem do termo e da prática bossware?
O termo bossware é um neologismo formado pela combinação das palavras “boss” (chefe, em inglês) e “software”. A prática de monitoramento surgiu da necessidade percebida por muitos empregadores de acompanhar e gerenciar as atividades realizadas pelos colaboradores durante o expediente de trabalho.
Como funciona o bossware?
O bossware opera por softwares de monitoramento instalados nos dispositivos que a empresa fornece aos funcionários. De forma geral, esses sistemas registram uma variedade de atividades realizadas durante o expediente, como tempo gasto em tarefas, sites visitados, aplicativos utilizados e métricas relacionadas à produtividade.
Existem diferentes formas de bossware, algumas mais discretas e focadas em coletar dados agregados da equipe para fornecer análises gerais sobre o uso de aplicativos e sugerir melhorias na produtividade. Essas ferramentas tendem a preservar o anonimato individual dos funcionários, concentrando-se nos padrões de uso coletivo.
Por outro lado, há formas mais invasivas de software de monitoramento de funcionários. Essas ferramentas podem levantar sérias questões de privacidade, pois conseguem monitorar detalhes individualizados das atividades dos colaboradores.
Podem registrar pressionamentos de teclas, acessar funções de microfone e câmera remotamente, além de permanecerem invisíveis para o usuário, o que pode comprometer a privacidade e a sensação de liberdade no ambiente de trabalho.
Quais os impactos do bossware para a empresa?
O aumento do trabalho remoto e a necessidade de garantir a produtividade e aumentar a segurança de dados sigilosos são alguns dos principais motivos que impulsionaram a implementação da prática de bossware. Para as empresas, os resultados ficam evidentes em diversos aspectos da rotina de trabalho. Confira a seguir!
Monitoramento de produtividade
As ferramentas de bossware podem acompanhar cada clique, cada aplicativo aberto e até mesmo o tempo gasto em cada tarefa. Essa espécie de “raio-x” do tempo de trabalho permite identificar onde o tempo é bem utilizado e onde pode haver espaço para melhorias.
Por exemplo, uma ferramenta de gerenciamento de tempo pode acabar identificando uma tarefa específica que consome mais tempo do que o necessário na empresa. Ao ter esse nível de detalhe, os supervisores têm o que precisam para fazer ajustes inteligentes na rotina das equipes para melhorar a produtividade.
Avaliação do desempenho
O bossware também pode ser utilizado como uma maneira de avaliar com precisão o desempenho individual e coletivo dos funcionários. Tendo acesso a métricas específicas, como tempo dedicado a determinadas tarefas ou qualidade do trabalho, os gestores podem ter uma visão objetiva para avaliar o desempenho de cada colaborador.
Essas informações podem influenciar decisões relacionadas a promoções e aumento salarial, por exemplo, contribuindo para um ambiente de trabalho mais justo e com base em resultados mensuráveis.
Eficiência operacional
Por identificar gargalos, processos lentos ou ineficientes, os gestores e líderes da empresa podem implementar mudanças direcionadas para otimizar fluxos de trabalho, reduzir desperdícios e aumentar a produtividade. Esses resultados podem trazer mais eficiência aos processos internos e uma melhor utilização dos recursos disponíveis.
Quais os impactos do bossware para o colaborador?
Embora a prática do bossware esteja associada à crescente necessidade das empresas em garantir a produtividade, a segurança e o cumprimento das políticas internas, seu uso também levanta questões éticas e de privacidade. Confira, a seguir, mais sobre os principais impactos do mau uso do bossware para o colaborador.
Perda de privacidade
O monitoramento excessivo e intrusivo pode fazer com que os funcionários se sintam desconfortáveis e vigiados constantemente. Essa perda de privacidade afeta a liberdade individual no ambiente de trabalho e cria uma sensação de vigilância.
Aumento de estresse e pressão
A constante sensação de ser observado e avaliado pode gerar um ambiente de trabalho tenso e ansioso para os profissionais. A pressão para manter altos níveis de produtividade leva a um aumento do estresse e prejudica o bem-estar emocional e físico dos funcionários.
Desconfiança e desmotivação
Se os funcionários perceberem que estão sendo constantemente monitorados sem uma justificativa clara ou se sentirem que não têm o benefício da dúvida, isso pode gerar um sentimento de desconfiança em relação à empresa. É um problema que pode gerar desmotivação, além de afetar a colaboração e a moral da equipe.
Redução da criatividade e autonomia
A constante supervisão também pode inibir a capacidade dos funcionários de experimentar novas soluções. Essa privação leva a um ambiente no qual os colaboradores se sentem desconfortáveis em buscar caminhos alternativos ou propor ideias novas, limitando o potencial criativo da equipe.
O que diz a lei sobre a prática de bossware?
No Brasil, a prática de monitoramento por meio do bossware, especialmente em contextos de trabalho remoto, não é regulamentada por uma legislação trabalhista específica. Isso significa que os empregadores têm certa liberdade para implementar ferramentas de monitoramento para supervisionar as atividades dos funcionários durante o expediente.
No entanto, mesmo sem uma legislação exclusiva para o monitoramento no ambiente de trabalho, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) estabelece diretrizes para a coleta, o armazenamento e o tratamento de dados pessoais dos indivíduos, incluindo funcionários.
Logo, se o monitoramento realizado pelo bossware envolver a coleta e o tratamento de dados pessoais dos funcionários da empresa, as regras estabelecidas pela LGPD serão aplicáveis.
A LGPD estabelece requisitos para o tratamento de dados pessoais, exigindo que o empregador obtenha consentimento explícito ou se baseie em outras bases legais para coletar e utilizar informações pessoais dos funcionários.
Portanto, embora não exista uma legislação específica sobre bossware no Brasil, a LGPD tem aplicabilidade quando se trata da coleta e do tratamento de dados pessoais dos funcionários.
Quais os cuidados que o RH deve tomar com a prática de bossware?
O RH tem uma função estratégica na supervisão das políticas relacionadas ao uso de ferramentas de bossware. É o setor que deve garantir que as políticas estejam alinhadas com as leis trabalhistas, a ética empresarial e as considerações de privacidade.
É imprescindível que a empresa adote um programa de segurança da informação se tiver de implementar ferramentas de bossware. Esse programa deve explicar como os dados são coletados, tratados, armazenados e compartilhados.
É necessário que os funcionários sejam informados sobre os procedimentos envolvidos no monitoramento, assim como os objetivos desse monitoramento e os dados que serão coletados. O RH, durante esse processo, é responsável por assegurar que os funcionários compreendam suas obrigações e direitos quanto ao uso dessas ferramentas.
Os profissionais de RH também podem colaborar com a criação de políticas internas que definem os limites e propósitos do bossware. Essas políticas devem abordar questões de privacidade para garantir que o monitoramento seja relacionado ao desempenho no trabalho e não viole a privacidade pessoal dos funcionários.
Conclusão
Embora o bossware tenha se mostrado uma prática valiosa para aumentar a eficiência e produtividade das empresas, não se pode ignorar os riscos associados ao seu uso no ambiente de trabalho.
Como foi visto neste artigo, a coleta de dados sobre o desempenho dos funcionários tem seu valor, mas a privacidade e a satisfação da equipe são aspectos que merecem atenção em qualquer estratégia de monitoramento do trabalho.
Os riscos relacionados à privacidade e à possível intrusão na vida pessoal dos colaboradores não devem ser subestimados. Para evitar esses problemas, o departamento de RH pode colaborar na orientação sobre a importância do uso responsável do monitoramento, garantindo a coleta de dados da maneira mais transparente possível.
As ferramentas de monitoramento devem ser utilizadas de maneira ética e proporcional, e o RH pode garantir que esse monitoramento seja direcionado para a melhoria da produtividade, sem invadir a privacidade dos colaboradores.
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